Poema de Anna Pinotti (Uruguai, 1973)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Gladys Mendía

Anna Pinotti nasceu em 1973 em Montevidéu, Uruguai. Atualmente, vive na cidade de La Plata, Argentina, onde coordena o workshop “Malverso de produção e experimentação poética e narrativa”. Ela publicou em Poesia: Cataratas, Buenos Aires, Ed Yüguen (2004); Para el Orden de la Orden, Buenos Aires, Ed La mariposa y la iguana (2013); De Mala Gana, Buenos Aires, Ed La mariposa y la iguana (2015). Também publicou um ensaio em conjunto com María Laura Suarez intitulado Qué Cuerpo Para Qué Momento, Buenos Aires, Ed La mariposa y la iguana (2015). Em 2021, ela ganhou o concurso de poesia da Editorial Falta Envido Ediciones. No início de 2022, foi publicado Fábula de un huevo freudiano pela Editorial Falta Envido Ediciones em Tucumán, Argentina.


[A BOCA ALHEIA DEPOIS]

a boca alheia depois
soube do dito
o pior/

o elo carece de unidade
e a força que resiste
e a cadeia de enforcamento
é uma amostra/ de humildade/ de senso comum
à vista de todos

não sei quando terminam/
essas questões que não têm razão às vezes
quando terminam/

que galinha
que cachorro
que cruz
que garantias/

pode ser excessivo e também necessário e também justo
às vezes
um ovo ou dois

a pata de sorte da galinha/ antes de sair
a porta principal a da rua/
também
o dono/
na boca do lobo poderia afirmar
os pequenos furos foram feitos com agulhas/ não de
tricotar

das outras
mais finas também/ principal/ o pescoço da galinha
depois
na boca do lobo antes de sair cuspiu o que sobrava/
pelo peso

da sorte e a pata manca essa/ de pau

porque o ovo não é da galinha é do cachorro/

desde o início
é o cachorro eu acho que corre
hoje
solto
a corrente/ soando arrítmica contra a terra

um zoológico a humanidade
e o animal nunca
nunca/ solto

o ovo do cachorro de Deus debaixo da terra/ antes de ser
tarde demais
prevenido no cuidado de seu produto/ do valor
da batida ainda antes/ debaixo da terra
o cão guardião sabe
as condições
a temperatura
e ninguém mais
ouviu quando ele disse/ à vista de todos

tarde demais

o ovo suporta apenas o peso de ser ovo/ e nenhum outro

entre tantos
o único de sua espécie

não se sabe de quem é o ovo entre os dentes/ custou-lhe
uma vida chegar à sua posição
de alto pedigree/ ao seu peso
desde pequeno
custou-lhe
conter a mordida dentro da boca

às vezes confundia-se o uivo do cachorro com o latido do
ovo/ à noite
parece
sob o manto negro ainda
brilhar/

a galinha tem outra perspectiva/ sobre o ovo sobre as
mãos do dono

e o calor acolhedor das penas
que sem querer produz
disse uma vez/ mas
foi mal entendida
parece
outra coisa sob o manto negro
o ovo

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