3 Poemas de Paul Nougé (Bélgica, 1895-1967)

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Poemas traduzidos por Floriano Martins.

Ao lado de René Magritte, Paul Nougé foi um dos mais destacados surrealistas da Bélgica. Em 1924 editou, juntamente com Camille Goemans e Marcel Lecomte a revistaa Correspondance. Nougé foi também um crítico do surrealismo mais dogmático, por conta de sua rejeição à escritura automática. Entre seus livros destacam-se também:  Histoire de ne pas rire (1956) e Érotiques (1994).

Obra consultada: L’Expérience continue (Les Lèvres nues, Bruxelles, 1966), L’Âge d’homme (Lausanne, 1981) e Quelques lettres (Didier Devillez éditeur, Bruxelles, 1995).


[O JARDIM APOIA NA JANELA]

O jardim apoia na janela sua espessura perfumada.

A noite vem docemente descansar no jardim.

Marie (ela está sentada na janela) entreabre um pouco seu vestido,

seus ombros são descobertos.
Ela espera no coração da noite.
Ela espera.
Passa um dedo lentamente em seus lábios.
Seu dedo

nos lábios fez o sinal do silêncio.
Ela espera.
Passa os dedos em seus cabelos, em seu

braço nu.
Mantém os olhos abertos no coração da noite.
E o jardim mal retorna, fecha a janela, como a noite

ternamente se separa do jardim.
Então um pouco da aurora avermelha o muro, a janela, a mulher

inteira apoiada na manhã.


O PAPAGAIO DA MINHA VIZINHA

O papagaio da minha vizinha
comeu um raminho de salsa
e o fone de meu vizinho
por pouco esmagou o rabo do cão;

a aflição choveu sobre nossa cidade.


ALGUNS ESCRITOS E DESENHOS DE CLARICE JURANVILLE
(fragmentos)

Sou eu que te vê
Porém és tu que me vês
Esta noite teu irmão falará contigo
Responderás com tua obra
E nada mais

*

Mantenho minhas promessas
Aposto por prazer
Balbucio insultos
Pinto belas pinturas sem estar em êxtase
Desvio a direção dos caminhos
Livrai vossas mãos de ataduras

*

Elas se parecem com todo o mundo
Forçaram a fechadura
Substituíram o objeto perdido
Carregaram as pistolas
Misturaram os licores
Semearam perguntas de mãos cheias
Modestamente se retiraram
Apagando suas assinaturas

*

Agora
Sou eu quem fará companhia aos homens e mulheres de má vontade
Farei de mim um prisioneiro deles
Instalado em suas mentiras em suas lembranças nos quartos variáveis de suas vidas
Penetrarei furtivamente em suas desgraças
Porei em ordem seus ressentimentos
Soprarei sobre suas cóleras
Empurrando-os até a praça
Cuidar é de suas costas
Não reconhecerão nem seus gestos nem seus gritos
Com toda fidelidade trairão sua palavra

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