7 Poemas de Shuzo Takiguchi (Japão, 1903-1979)

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Tradução de Floriano Martins


Poeta, crítico de arte e escultor. Colocou grande esforço para a introdução e proliferação do surrealismo no Japão, e foi um pilar de sustentação teórica e espiritual para a vanguarda japonesa do pré ao pós-guerra. Nasceu na província de Toyama em 1903. Traduziu a totalidade de Surrealismo e Pintura, de André Breton enquanto estudante na Universidade de Keio (1930), e apresentou uma série de poemas experimentais. Formou-se em 1931 e trabalhou na produtora de filmes PCL até cerca de 1936. Nessa época, comunicava-se por correio com Breton, traduzia textos relacionados ao surrealismo e publicava críticas de arte. Em 1937, organizou a Exposição Overseas Surrealist Works com Yamanaka Sansei. Ele forneceu liderança para muitos grupos de vanguarda, mas foi marcado como perigoso pela Polícia Especial e foi preso e detido em 1941. Takiguchi retomou sua atividade após a guerra. De 1951 a 1957, ele planejou a 208ª exposição da Galeria Takemiya, onde desenterrou artistas como Kawara On, Kusama Yayoi e Kanou Mitsuo. Ele também apoiou a atividade de Jikken Kobo, o grupo fundado por Kitadai Shozo, Yamaguchi Katsuhiro, Takemitsu Toru e Yuasa Joji. Em 1958, viajou para a Europa como comissário da Bienal de Veneza (onde votou em L. Fontana); lá, ele falou com Breton, Duchamp e Dalí.

Em 1963, ele planejou a abertura imaginária da inexistente “objet shop”, para a qual tomou emprestado o nome “Rrose Selavy”, com a bênção do próprio Marcel Duchamp. Ele continuou sua pesquisa sobre Duchamp até sua morte em 1979.

As principais obras publicadas incluem Arte Moderna (1938), Miró (1940), Escrevendo nas Margens (1960), Experimentos Poéticos de Takiguchi Shuzo 1927-1937 ( 1967), For Surrealism (1968), e outros.

# Obra consultada: The Poetic Experiments of Shuzo Takiguchi 1927-1937 (1967).


NOBUHIKO TSUCHIBUCHI


JUAN MIRÓ

A língua do vento.
O céu de cobalto sempre claro
pouco em
sua pintura.
Em um cartaz pré-histórico
as palavras dormem como seixos.

Um galope de penas
sequestra
a conversa entre cordas grosseiras e animais selvagens.
Você pinta dentro de uma marca de nascença piscando
o casamento do céu e do inferno
mais rápido
do que se amarrasse uma fita em um espelho.

Parque infantil.
De algum fliperama
uma bola transparente voa.
Eu chamo Miró.


RENÉ MAGRITTE

Silhuetas lançadas
fluem incessantemente como água,
fluem entre montanhas
rapidamente como um caleidoscópio.
A solidão do Pólo Norte
agita-se com silhuetas humanas.
Transmissão sem fim do ABC.

Na costa triturada
um chapéu de seda queima
como um truque de espelho,
como um eco humano
queima um chapéu de seda sem parar.
Então as chamas
foram recebidas como o ABC.

Na noite de um belo eclipse lunar
as silhuetas sorriram.


YVES TANGUY

É uma pistola sem peso –
sua mão.

A cauda de fumaça
como uma conversa ilimitada
risca floração e morte.
A cabeça de um deserto.
Um rasto branco paralelo às linhas do cabelo penteado.
Um barómetro seguiu seu sonho
sem piscar.
Um leitão libertado
espetado acima de suas orelhas de pétalas rosas
e desapareceu como uma estrela.

Todos
esperam por todos
em um desconhecido
porém familiar
tabuleiro de xadrez infinito.


SALVADOR DALÍ

O grito de longas listras
desperta os seixos suaves.
Um vazio estraçalhado
é a face da lua de uma mulher
como uma borboleta em uniforme
tristeza empoleirando-se esta noite
em uma face sem cabeça.
Relógios
em um banco insone
eram anfíbios fora da água do lago.
Agora o mundo
sofre de nostalgia severa,
e o espaço, cheio de desejo terrível,
estremece como um triângulo.
No fulgor histórico de um crepúsculo
os seres humanos se abraçam.
Um bando de pardais famintos e tímidos
voa para baixo
no grande espetáculo de aterradores objetos do século XX.
Eis o recipiente e o conteúdo do universo.
O fascinante complexo
de bebês puros.
Um enorme piano de cauda de porta-fecho
é uma máscara com uma boca aberta.
Ao longo da palavra Dalí
encontra-se uma costa misteriosa arruinada.
Dalí – o som gelado das ondas.


MAX ERNST

Um viajante noturno
devora
algemas críticas da noite
como um pedaço de carne.

À meia-noite sem voz
uma carta de mímica chega
aos cuidados do deserto de Gobi.

Uma lata de palavras
é confundida com um pedaço de carne
por famintos, eternos pássaros.

Uma noite
um presente humano
queimava como uma flor.


PABLO PICASSO

Os olhos tristes
das aves voadoras
são martelados em nosso sangue
como canções.
Alunos e lábios na água falam
para as orelhas e uma testa no chão.
O amor no vento
ergue uma voz suave
e abre as pétalas das janelas.
Uma cadeira branca dobra sua perna negra
e esfaqueia um peito
como uma espada.

Ao nascer da lua
uma mulher baixa os olhos para sua pele nua.
Um mapa manchado de sangue
espalha seu azul.
As asas das aves aquáticas
escondem o oceano.
A cor do leite ligeiramente
esconde a cor do sangue.


NOTURNO

De um copo onde vivem pássaros
uma prisioneira tira as luvas.
Um banho de luar lhe dá o equilíbrio de alguém de luto.
A noite ilumina claramente tudo dentro da noite.
Uma fonte continuamente costurava as rugas de uma cama vazia.
Ela é tão fina quanto um buraco de fechadura.
Logo, dentro da pélvis, sentiu-se livre.

Entre hoje e amanhã, um lenço branco.

Umas férias sem fim de lábios vermelhos.
O sol é sedimento na parte inferior do vidro,
juntamente com os pássaros insones.

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