Curadoria e Tradução de Gladys Mendía
Mariella Toranzos (Guayaquil, Equador, 1988). Estudou Comunicação Social na Universidade Católica de Santiago de Guayaquil. Trabalhou como redatora em vários meios de comunicação. Atualmente, atua como jornalista cultural. Em 2012, publicou uma seleção de poemas na antologia Sinergia da Onehitwonder Cartonera. Seus textos também estão presentes nas antologias de 2012, 2013 e 2014 do Festival Internacional de Poesia Ileana Espinel.
VINHETAS DE UM ESPELHO QUEBRADO
I. Ontem rasguei minhas asas. Destruí com o fio do bidê suas dobras translúcidas. Me lancei sobre elas, batendo-as contra o fio como uma louca, gemendo de prazer e nojo ao vê-las desmembradas, em trapos, uma e outra vez até ficar vazia. Não venhas mais por aqui. Cansei de adorar tua forma como a um templo.
II. Descalça, caminho um deserto de espelhos. Piso os cristais até que se quebram e cortam meus pés. No rastro de sangue desenhei o retrato da minha mãe. Meu coração se duplicou enquanto dormia, agora não cabe no meu peito.
III. Hoje quero morrer mil mortes entre teus braços. Vou sussurrar em teu ouvido as palavras que inventei para te chamar. Fecha os olhos enquanto te beijo e deixa que minhas lágrimas escorram pelas tuas pálpebras. Vou deixar na pinta da tua bochecha, as tardes que quis estar ao teu lado. Amanhã voltaremos a ser estranhos.
DESPEDIDA
Durante o mês que você levou para me deixar
enchei o tanque de gás com trinta e três dólares e trinta e três centavos.
Disse que era um presente porque era
seu número favorito.
Organizei nossas coisas.
‘Amor, aqui estão os suéteres’,
‘Aqui está sua escova’.
Como se ao chamar as coisas de ‘nossas’
pudesse me incluir no que você chamava de ‘casa’.
Comprei flores para um vagabundo.
Queria trazê-las para você, murchas e feias,
para te mostrar que podia devolver-lhes
a vida.
Há uma cicatriz em forma de teus dedos
bem acima do meu seio esquerdo,
que ficou como vestígio de todas as noites
que me seguraste
como só se segura algo
que está escorregando.
Agora há seis províncias entre nós,
entre a última vez que nos beijamos e hoje,
guardadas como flores murchas dentro de um livro.
Às vezes ainda te sinto como um ruído preso na minha garganta.
Pungente!