3 Poemas de Wladimir Zambrano (Equador, 1984)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Elys Regina Zils

Wladimir Zambrano (Equador, 1984). Poeta, artista plástico e professor. Em 2009 recebeu o primeiro lugar no Concurso Nacional de Poesia David Ledesma Vásquez por Diario del crepúsculo. Desde então, publicou Interior de ciudad (Dadaif, Guayaquil 2011), La restauración (Cascahuesos editores, Lima 2013) e Carta de los muertos para uso de los vivos (Fondo de animal ed. Guayaquil 2020). Cómo se mide el océano é o título da antologia que reúne a obra poética do autor, 2009-2022.


REIVINDICAÇÃO DO VERÃO

Acorda a lâmina:
imediatamente seca nos lábios do ancião,
mas o sol avança
como uma regra de ouro entre as pessoas e o ar.

E o vento,
crente em sua morada infinita,
predispõe o tênue anunciando o impossível.
Já não há mais vampiros pequeninos.
                                                                   Já não há mais vampiros pequeninos.
A agulha do momento
(curvada ou vertical)
multiplicada por mil respira no passado.

E a terra
se afasta em carícias de fogo diante da umidade e do sono
(aquele casamento que dissipa o controle das ruas antigas,
a armadura,
a dor
e o tato essencial na hora marcada).


ODILON REDON OU A FUGA DE TUDO OU O SEGREDO CONFECCIONADO

Quando alguém fecha os olhos sem dormir:
caminha uma criança,
vira o dia e a velhice se reprime,
e A hora,
O minuto e O segundo
como forma de cera instalando sua memória entre o fraco
brilha o fragmento do descanso ao cruzar um rosto vivo.

Quando alguém fecha os olhos sem dormir:
há um segredo que é ignorado no final dos segredos
ou a vibração e o ar que se dissipa diante da ideia
ou o jardim
ou a pedra
embrulhados como um antigo presente entre divagações e anseios;

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coisa inocente e ao mesmo tempo trêmula,
que guarda as carruagens destruídas em que viajava a memória
(palavra oculta ou que não existe,
mundo de medos que desce entre as pálpebras
e o desejo,
que, conservado como um baú de ouro ou um barril de vinho,
abraça a perfeição
na privacidade do silêncio).


CARTA DOS VIVOS PARA USO DOS MORTOS

Existir no amor
para existir ao longo do tempo,
ser uma parte privilegiada
entre as formas da música.

Ter fé…
                                 Ficar parado…
Sentir a eternidade
                                no cansaço de outro corpo.
Descer mentalmente de um prédio que ainda não conhece.
Caminhar tentando reconhecer os lugares
(uma loja,
um ônibus,
uma esquina).
Comprar um suco de laranja e apreciar o sabor
de sorrir pela manhã
pensando da cintura para baixo,
como encher a rua vazia com o seu sorriso de trapezista em chamas,
seu desejo de vibrar por dentro como se fosse um sucesso musical.

Perguntando-se:
E se a guerra vier nos procurar e nos encontra em nossas casas?
E se eles nos cobrirem com línguas furiosas e a lepra é o pão e os pássaros
são apenas coisas impossíveis?
E se os dentes brancos começarem a brilhar sob os fumegantes
dentes amarelos?

O que mais nos resta?

Senão resistir
como o sentido vertical
das ilusões secretas;

E realocar
na doença
onde se aprende o fanatismo da vida.

 

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