Curadoria e tradução de Floriano Martins
Aglae Margalli Dives, natural de Villahermosa, Tabasco, vive em Mexicali, Baja California desde 1982. É formada em Jornalismo pela Universidade Autônoma de Chihuahua e mestre em Literatura e Humanidades Aplicadas pela Escola Contemporânea de Humanidades de Madri. Tem um mestrado em Comunicação pela Universidade Autônoma de Chihuahua. Exerceu jornalismo cultural para rádio e televisão na área editorial e entrevistou diversas personalidades da literatura latino-americana. Coordenou o Suplemento Cultural do jornal La Voz de la Frontera por cinco anos, de 1992 a 1997, e a página cultural “Remembranzas del Viejos Mexicali” no jornal La Crónica de Baja California por três anos, de 1997 a 2000. Obteve o Prêmio Nacional de Poesia Enriqueta Ochoa, em 1995, com o livro Poemas desde el claustro e o Prêmio Estadual de Literatura de 1998 com En las Lumbrerías de la California. Representou o México no Encontro Internacional de Vallejistas realizado no Peru em 2001 com o ensaio “A poesia mística de César Vallejo”, e no Festival Internacional de Arte Surrealista, “Las llaves del deseo”, realizado em março de 2016 na cidade de Cartago, Costa Rica, com o livro Los delirios de la lengua, publicado pelas edições Fundación Camaleonart e Andrómeda da Costa Rica em 2016. Publicou (além dos citados acima) em contos: Historias del lado izquierdo; em poesia, Selvarena e La llama del misterio, este último publicado pela U.N.A.M., na coleção “El ala del tigre”; em crônica, Remembranzas: crónica del viejo Mexicali; Recuerdos de papel e Dejamos Huella; em ensaio, La poesía mística de César Vallejo, publicado na Espanha pela editora Amargord dentro da coleção “1001 libros para cruzar la noche”. Atualmente é Presidente do Escritório Correspondente do Seminário de Cultura Mexicana em Mexicali, Baja California e membro do Grupo Comunicadoras de Mexicali, A.C. desde 2010 até à data e membro fundador da Semillas, A.C, uma associação civil sem fins lucrativos dedicada à formação e empreendedorismo social de grupos vulneráveis.
INVOCAÇÃO
II
eu me curvo diante do túmulo
de tua mãe
neste gesto suspenso
desde uma eternidade
que me transcende
Não há suplício maior
na abóbada esférica
desse beijo que eu dou
na estreita frieza dos sentidos
do que adivinhar teu próprio beijo
repetido no gozo subalterno
uma geração de lábios
empilhada
nessa boca minha e tua
rasgando a aurora do mistério
X
há momentos
em que as distâncias são impostas
a humanidade cabe em um advérbio
sobrevives no outro
e nos outros
e os outros em ti
Tudo existe em um Nome
em uma comunhão libertadora
em uma estranha intimidade do Verbo
de células pulsando
em direção a todos os pontos cardeais
e a formiga é tua irmã
irmã tua a aranha
a pequena mosca
–revestida
de luz de epifania–
teu irmãozinho
Com certeza!
então
a Palavra
XIII
vermelho é o teu coração
aceso por fósforos
glorificado em barro
teu adjetivo
crepita
a chaga existencial
vencida na palavra
fogueira primal
deslumbrada
no ritual vermelho
de teu canto
inflamado
XVI
A fome
te agarrou pelo pescoço
esmagando a vasta extensão
das artérias
morres de todos os lugares
e não podes escapar da desorientação
mesmo se fingires
te esconder
na asa entreaberta
axila
a dor
balança pelas rua
como uma corda pendurada
que se agita
sobre testas enormes
até sufocar o queixo
em cartografias que pregam
labirintos alucinados
XXIII
meu corpo range
de calafrios repentinos
na bagunça apocalíptica
de tua voz interior
que me arrasta em sopros
de hálito calcinante
pelas paredes onde estiveste um dia
de onde retiraste pedras
galvanizadas
até o suplício
apenas para queimar o caos
de tua cabeça de mestiço
E erguer com altivez
O dedo indicador
nas crepitações desenfreadas
que esfolam
o coração do homem
Ler grandes poemas.
Um bálsamo, mesmo quando dói.