3 Poemas de Aimée G. Bolaños (Cuba, 1943)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Aimée G. Bolaños (Cuba-Brasil). Leitora e escriba de ficção. Professora de literatura na pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Rio Grande, Brasil. Professora adjunta na University of Ottawa, Canadá. Doutora em Filosofia. Pós-doutora em Literatura Comparada. Autora de numerosos livros e artigos em revistas latino-americanas, canadenses, européias. Conferencista em Universidades de México, Argentina, Colômbia, Canadá, Cuba, Espanha, França, Portugal, Alemanha, Ucrania. Livros de ensaios recentes: Poesía insular de signo Infinito. Una lectura de poetas cubanas de la diáspora e Oficio de lectora. Como co-autora Vozes negras da literatura das Américas, Ficções da história, Identidades em diálogo. Tem participado nos livros: Historia de la literatura cubana, Literatura e emigrantes, Dicionário de Figuras e Mitos Literários das Américas; Imaginários Coletivos e Mobilidades (Trans)Culturais; Dicionário das mobilidades culturais: percursos americanos, Literatura do íntimo; Diálogos com Paul Ricoeur: ensaios de hermenêutica literária, Huellas francesas en Cienfuegos, Deslocamentos Culturais e suas formas de representação, Revisões do cânone. Obra de ficcão: El Libro de Maat (2002); Las Otras (Antología mínima del Silencio (2004), Las palabras viajeras (2010), Escribas (2013), Visiones de mujer con alas (2016), El juego de los trigramas/O jogo dos trigramas (2019), Alada viajera (2020), Erótica Medusa (2021, Andante (2022)). Aparece em diversas antologias poéticas: El espacio no es un vacío (Canadá), Antología de la poesía cubana del exilio (España), Catedral sumergida (Cuba) e no livro de entrevistas: Cuba Per Se. Cartas de la diáspora (EE. UU.). Tradutora de português e inglês; também tem sido traduzida a diferentes línguas. Dedica-se atualemente ao estudo da poesia de autoria feminina e poética. Gosta de inventar identidades tecendo vidas imaginárias. Também de voar, mergulhar, olhar.  


VISÃO ELEMENTAR

Um pássaro ferido no ar
a inconstante lua submersa.
A casa de habitar as águas
com seus dias de ausência iguais.
Os vivos livres da lembrança
flanando em sua leveza.
Os mortos semeando flores
no pátio oculto da infância.
O fogo da casa que não arde.
A terra prometida que se desfaz.


ATREVIDAS

Eu mesma: a memória escava
em devastação e ruína.
Eu outra: a memória cria
uma eternidade incompleta viva.

Eu: O ser é uma estação passageira.
Jogo volátil de um demo travesso.
Outra: O ser é a casa que abriga.
Dádiva de um demo compassivo.

Eu: Perdida em trilha de sombras
me indago para onde estou indo.
Outra: Celebrando as perdas
as sombras iluminam o caminho.

Eu: O meio termo aí está
para não desesperar no caminho.
Outra: Não há meio termo
se nem mesmo o caminho existe.

Escuto enquanto caminho.


ÚLTIMO RITUAL

Estou piedosamente embrulhando
o teu corpo do amor em linho nobre.
As voltas infinitas formam
uma espiral aberta inexorável ao tempo
que em breve deixará esta quimera esquecida.
As chamas urgentes crepitam e celebram.
Com ternura eu te deposito no leito que reverbera.

Desde o círculo de fogo acompanho tua descida
quando a boca vermelha do abismo te devora.
Ao redor da fogueira ancestral danço
enquanto conto a saga do peregrino incapaz.
Devolvido pela minha memória ao pó de origem
entrego as cinzas ao rio sagrado da morte.
E finalmente livre regresso à vida que me espera.

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