Curadoria e Tradução de Floriano Martins
Nasci na Filadélfia, Colômbia, cresci no meio de guamos e sapotas, bambu e café caturra. Lá meus primeiros poemas. A profissão de escritor que aprendemos sem perceber. Gostamos de um papel em branco para rabiscar um universo de palavras.
Aprendi com meu pai que escrever é uma necessidade visceral, tão grande quanto respirar. Tão essencial quanto o alimento, tão cheia de vida quanto a própria vida. Aprendi com meu pai que devemos escrever e rasgar. Rasgar e escrever. E isso eu fiz todos esses anos sem saber que uma vocação tardia se imporia no tempo como uma marca indelével do que se é.
Na adolescência, ao ouvir o professor de espanhol referir-se aos poetas da geração de ‘98 e ‘27 na Espanha, nasceu a preocupação de conhecer um poeta, um escritor, desejo impossível naquela época. A vida se alimenta de instantes que perduram, amadurecem no tempo, enquanto isso, sonhos que ainda não foram tecidos na roda de fiar.
Cada experiência, marca indelével, combustível que alimenta o fogo sem saber o que nos habita.
A escrita é um destino tardio, porque na hora de escolher, outros rumos, que não a literatura, são tomados: administração educacional e ensino. Mais tarde, a psicologia social e a psicanálise, depois a prática analítica e o trabalho com as mulheres nas comunidades de Medellín, trabalho com as crianças e o desenvolvimento de talentos, mas a escrita, agachada como um pequeno esqueleto, vai se incorporando aos poucos, até se tornar epifania feita de relâmpagos.
Desde 2004 sou membro do agrupamento Los Octámbulos, em 2007 publiquei o meu primeiro livro de poesia Lobos incendiarios, em 2012 La ciudad de tus ojos, em 2018 Otro nombre, el viento. As publicações aparecem nas revistas Ciudad, meFisto, Universidad de Medellín. Jornal Confabulation, jornal El Mundo, revista La Otra Virtual latino-americana, revista Inverted Raíz, revista Innombrable, revista Vericuetos. Antologias a nível nacional e internacional. Postagens no blog.
E assim desde a infância, e por meio de meu pai, a vocação para a palavra se desnuda, a poesia se fez ouvir. Sempre de visita, insiste em tornar-se poema, em ir além do pai, para roubar-lhe fogo com sua permissão.
A psicanálise, sempre atravessando o longo caminho, de ser poeta, algumas vezes, e outras, poema.
MARÍA HELENA GIRALDO GONZÁLEZ
O PULSAR DO ESPELHO
Minha geometria, um traço no corpo marcado pelo tempo, uma armadilha irreversível que se perde no esquecimento.
Um bonde retorna à minha memória, paro na cena de duas meninas que são uma só. Alguém abre e fecha a porta dos silêncios, enquanto perfura meu corpo com sua voz.
Testemunho o pulsar dos espelhos, revés do sonho que sou. Não há sequência nas buscas desta obra inacabada que é a vida.
Eu olho pela fenda na porta e me vejo deixando o que nunca foi meu.
Os potros selvagens galopam, eu os deixo ir enquanto me despeço.
DEUS É UM HOMEM QUE TOCA HARPA NA NOITE ESCURA
Espanto do homem, rosto no aguardo.
Um deus bêbado e enganoso, de sal e doce, de luz
e escuridão.
Como encontrar Deus na minha dúvida,
no resto desta noite sem Estrela?
Deus é um homem que toca harpa na noite escura.
Eu vejo isso na voz trêmula da lua.
A desobediência de Deus ao homem
é uma rua movimentada onde o
a palavra treme.
GRAFIA DO SONHO
O sangue nos empurra como um rio, enquanto o espelho nos revela a face da noite. Ela é o reflexo do que foi e ainda é. Um destino bate à porta que não existe.
A noite não tem olhos.
Eu me transformo em um enxame de abelhas, um unicórnio vermelho, um osso pré-histórico. Ninguém me advertiu que descendo da formiga.
Despojo-me de todos os nomes que trouxe e sou apenas restos, restos do dilúvio, vazio sobre os inícios do tempo.
Hola , sone anoche con una poesia que tenia tu nombre, en Ella lá mujer que me decia esa poesia mencionaba palabras de conforto y palabras donde me exigia y decia que sola no estás mas Maria Helena , sone eso anoche y busque en Google un poema para Maria Helena y salio tu história, ei puedes me respondes…