4 Poemas de Victoria Margarita Colaj Curruchiche (Guatemala, 1986)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Victoria Margarita Colaj Curruchiche (Guatemala, 1986). Poeta maya-quiché, amante das letras e da fotografia, membro ativo do coletivo de escritores Ajtz’ib ’e pintores ARTE DE COMALAPA. Participou de diversos festivais de arte e poesia. É autora dos livros Como Agüita de tuj (2017) e En el Bello del Universo (2018). Seus poemas foram compilados nas seguintes antologias: Mujeres del viento, sete novos poetas guatemaltecos (2017); Poetas Comalapa: Alaxinaq pa taq k’ichelaj (2017); e La Poesía es Libertad (2018).


A CHUVA DOS ALFABETOS

Naquela noite eu fui pranto, depois origem, obsidiana, flores.
Também um pouco de dor envolta em uma manta de vaga-lumes.
De repente! chuva, eclipse, resplendor solar que cospe fogo,
Essa estrela que estavas esperando, a tarde de rebelião que eu desejava.
O alimento que faltava, o tenro milharal, a cobra amarrada
na trança de teu cabelo.
Sim, é assim que me lembro.
Quebrando osso por osso, para construir o caminho
E reencarnar nossas almas nas nuvens de veludo.

Eu fui sonhos destruídos na memória,
fui a fumaça que acariciava teus lábios. Sim, aquela noite infinita
Onde a minha língua e as raízes do tempo brotaram.


[ESTOU CHORANDO]

Estou chorando, nesta terra não amanhece mais.
Não se vê o rosto da água, estou chorando.
Os teus olhos de pássaro cantor já se apagaram.
Estou chorando, o céu triste também chora a cântaros.
Sobre o milho tostado recosto um pouco a minha tristeza.
Estou chorando hoje a morte como sempre vestiu teu chapéu e tuas saias longas.
Ela me embriagou o coração e se vestiu de crepúsculo dormido. A morte, ai!, tão malandra como sempre.
Estou chorando.


[OS RIOS SE DISPERSAM COM O SANGUE]

Os rios se dispersam com o sangue e
Os ossos daqueles que não reconhecemos,
Senão pela cor púrpura
Que toca o sol.

Seu ventre chora pelos filhos
Perdidos, entre as luas e
Solidões daqueles dias do desterro
E do terror.

A obscura montanha é o sepulcro
Dos chapéus
Dos xales
Dos Esquecidos,
Dos sem nome,
Dos sem pranto.
Das noites empoeiradas
Dos 500 anos.

Os caminhos quebrados
Com aqueles pés sem descanso da fuga
Até o nada, até o vazio da esperança perdida.
És nomeado, sou nomeada
Entre o peso da desmaiada
E do flagelo.
Entre a agonia dos silêncios.
Tratamos de esfolar
A memória, para dela retirar toda a dor
Todo o horror.

E assim ficarmos com o perfume das flores,
A doçura das frutas
E a terra úmida.


[MINHA TÚNICA]

Minha túnica, casa das flores, casa de animais, belo lugar para se habitar.
Minha túnica, onde dorme o jaguar e dança a serpente.
Minha túnica a palavra das avós, é onde voa o pássaro guardião.
Minha túnica onde o vermelho representa meu sangue, e nossas lutas
Minha túnica, nosso belo lar.


NOTA
Arrisquei essa tradução me desfazendo das palavras indígenas (güipil, kumatzin, k’ot) para não interromper o fluxo de imagens do poema. F.M.

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