3 Poemas de Xavier Oquendo Troncoso (Equador, 1972)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Xavier Oquendo Troncoso (Equador, 1972). Jornalista e Mestre em Escrita Criativa pela Universidade de Salamanca. Professor de Letras e Literatura. Entre seus livros de poesía encontramos: Después de la caza (1998), La Conquista del Agua (2001), Esto fuimos en la felicidad (2009, 2010, 2018), Lo que aire es (2014), Manual para el que espera (2015) e Compañías limitadas (2018, 2020), também incluindo os livros que reúnem sua obra em distintos momentos, tais como Salvados del naufragio (poesía 1990-2005), Alforja de caza (México, 2012), Piel de náufrago (Bogotá, 2012), Mar inconcluso (México, 2014), Últimos cuadernos (Guadalajara, 2015), El fuego azul de los inviernos (Italia, 2016 – Nueva York, 2019), Dedicatorium (Lima, 2020), En la soledad del nuevo día (Honduras, 2020), e Algunas alas (Colômbia, 2021). Organizador do Encontro Internacional de Poetas “Poesia no Paralelo Zero”, um dos mais importantes festivais de poesia da América Latina, já com 11 anos de edição consecutiva. É diretor e editor da editora El Ángel Editor, onde publicou cerca de 400 livros de poesia de autores equatorianos e mundiais, divulgando amplamente a poesia contemporânea na região.


PERGUNTAS VALLEJIANAS

Para onde irão as longas horas
os tempos cozinhados com a derrota
o porto quebrado dos dias?

Onde as lagoas se tornarão espelho;
os cromossomos, sombras; as panelas, fome?

Onde será feita a concha do dia
a mácula da insônia
a aranha que me habita?

Onde nascerá o cabelo comprido, o rosto exposto,
a borda dissecada de algum triângulo
o pão de centeio da última ceia
o 20 que não tem um 21 que o supera?

Onde estará meu sapato sem pedra
meu brinquedo sem rosto, sem unha a grande besta?

Onde a minha poesia encontrará dor,
cor, a homenagem de alguma freira morta
de alguma flor sem filho que a arranque
sem verde que a herde
sem olhos que se tornem ciclopes e caolhos?

Onde os elefantes viverão após a morte?

Onde irei feliz por essa rua à procura de jantar
sozinho ou contigo
                                          sozinho contigo?


MURAIS

Aos Valetes

As grutas de Altamira da minha casa,
os esboços daquela muralha,
meu filho os fez, quando no século 21
as primeiras paredes brancas tinham acabado de ser construídas
e a luz também havia sido reinventada
uma semana antes
para dividir a cor da escuridão.

Houve tardes inteiras em que meu filho
planejou brincar com a paleta de sua astúcia
e combinou a cor de seus dois anos
para pintar o primeiro mural
com os traços de um boi contemporâneo.

Até então
as coisas já tinham um nome
e os músculos do riso
tinham sua própria evolução.


DE COMO O POETA TRATA DE FUGIR DA DOR

Que não se vá o sol porque é domingo.
Que o peso da dor não durma sobre um apenas.
Que seja compartilhado.
Que vá com todos.
Que haja boa distribuição da dor.
Que todos vivam para ter sua dose,
seu pequeno maltrato,
o pagamento a prazo da dor sem interesses.
Que gritemos todos uns com os outros
na ópera funambulesca da dor.
Que não tenhamos compaixão com ninguém.
Que todos devemos doer e compartilhar.
Que a dor não venha de uma em uma.
Que todos vejamos chorar Polifemo,
que todos choremos igual por Galatea.
Que não mereçamos alegria
enquanto vemos o ladrilho cair de bruços
sobre a felicidade.

Ao fim e ao cabo, o mundo
é uma dor imensa que sempre começa.

E da poesia, que nada se diga.

 

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