Curadoria e tradução de Elys Regina Zils
Humberto José Avilés Bermúdez(Nicarágua, janeiro de 1953). Licenciado em Direito pelas Universidades de Salamanca e Málaga, Espanha. Doutorado na especialidade de Direito Constitucional, Universidade Complutense de Madri, Espanha. Primeiro prêmio no Oitavo Concurso de Poesia “Universidade de Navarra”, Espanha (1979) pela coleção de poemas Hipótesis del amor. Prêmio Internacional Andrés Bello 2018 pelo conjunto de sua obra. Acadêmico numerário da Academia Hispanoamericana de Buenas Letras, ocupa a cadeira Ernesto Mejía Sánchez desde agosto de 2018. Obra publicada: POESÍA: – Perfil del olvido (1976-2012). Antologia de poesia. Fórum de Cultura da Nicarágua, 2013. – Estigmas de silencio (1971-1976). Editorial Amarante, Salamanca, Espanha, fevereiro de 2014. Segunda edição-Editorial Amerrisque. Manágua, Nicarágua, 12/2015.– Poética de la simpleza (2010-2013). Editorial Amarante, Salamanca, Espanha, maio de 2014. Segunda edição-Editorial Amerrisque. Manágua, Nicarágua, 12/2015. – Escritos de la Sirena (2013-2016). Fórum Cultural da Nicarágua-Assembleia Nacional, 12/2016. – Antología Mínima. Editorial El Suri Porfiado. Buenos Aires. Argentina, 2018. Color de Luz. Ediciones Hespérides. Coleção Morada al Sur N° 2. La Plata. Argentina, 2019. Otredades. Fórum Cultural da Nicarágua, Manágua, 2023. El corazón de mis palabras busca un nombre. Poemas. Ablucionistas Editores. Hidalgo, México. Primeira edição 2023. POESÍA REUNIDA. Cisne Negro Ediciones. Honduras, 2023.
DA ESTÉTICA E SEUS DESMANDOS
Para Francisco Trejo
I
Os desmandos da beleza
se revelaram quando
era tarde para evadir
seus efeitos.
O amor silencioso
de qualquer silêncio
já esquecido,
ouviu
o não dito…
Como tango de poeta
para sua avó morta:
Aquelas sombras esquecidas
pelos vestidos da compaixão…
E ao dançá-lo,
ato poético descarnado apontando
em seu mal de ser
aqueles primeiros passos
de dança infinita.
II
Para Marisa Martínez Pérsico
Que intensa idade metafórica
a de tomar chá de papoulas
para circular livremente…
Como seres que
perdem coisas entre
as mesas,
despreocupados,
qual celebração perpétua
de sua liberdade de escolha.
Na Finlândia faz calor
emanado pela linguagem…
Apesar disso,
o amor silencioso
de qualquer silêncio
e esquecido ouviu a notícia:
Morre congelado
o fotógrafo René Robert
nas ruas de Paris
após uma queda.
Foi encontrado
por um sem-teto
que não quis
divulgar seu nome.
III
Para Juan Rivas Alfaro e Porfirio García Romano, cúmplices.
Porfírio resgata uma inusitada
linguagem de tangerinas
para se despedir de janeiro…
Fevereiro às portas
com cheiro de vento.
E vem Juan Rivas Alfaro
com O silêncio das sombras
ensinando
como deixar
que as cores falem…
Perguntando ao mesmo tempo
Como se expressa o silêncio
na poesia?
Tento responder:
Expressa-se amadurecendo-o
até que doa…
E então já não será silêncio,
apenas dor,
esse preciso de ter sido
embora para então
já não seja.
BRASA
Luz desnuda,
meio-dia pontual
da sombra
este silêncio
chora palavras.
Expirou
o sofrer
tanta dor cintilante,
pele esfolada de verbo
arrancada no fulgor de maio
quase chuva.
Calor do ar
sinfonia abafada,
solidão que arde
e será cinza.
PULSO
O pulso que a vida
escreve
impulsionado pelos
rastros do amor…
Essas dores
redentoras
para cumprir a profecia
encontrada ao olhar para trás.
Corpus pulsante,
gênese do verso
cada letra ditada
pelo sopro de cinzas
escravas do ar…
Sangue gota a gota
derramada por amantes
cujo crime foi
ser poetas…
Esses culpados de acreditar
que o tempo é mentira,
que viria a tinta
e duradouro faria o nosso nome.
BALBUCIO
Balbuciar…
A mais bela
conjugação
do verbo
Amar.
Como um rumor
de ternura crescido
no eco da minha voz.