3 Poemas de Esther María Osses (Panamá, 1914-1990)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Dona de um imaginário fértil e repleto de registros muito próximos do autóctone, sua obra poética funda um universo poético, cujos elementos podem ser observados de uma perspectiva totalizante. Sua voz é primal, quase vernácula, sempre apreciando um cenário que privilegia os dons naturais, e onde os mares, o vento, os rios, as árvores, as onças, a selva… se tornem um sinal de consciência cultural e plenitude humanística.

O imaginário “Esthermariano” (se me permite a palavra) é uma festa de transfigurações, analogias, correspondências, onde cada verso carrega seu próprio caminho de expressão e se projeta, à medida que se desdobra, como uma cornucópia.

Um dos sinais que marcam a poesia desta chiricana reivindicada por toda a Nossa América, é a água. A água que é transparente e flui em todas as suas dimensões: o mar, os rios, a chuva. Esse elemento líquido, sempre atual, sempre em movimento, funciona como um eixo, como um pivô metafórico que tudo transforma. A água guarda os segredos do universo, por isso a autora expressa uma grande preocupação em fazê-la falar e se calar ao mesmo tempo: água é o que já foi e água é o que será.

GIOVANNA BENEDETTI


ENTRE JASMIM E PÁSSARO

– O nome pelo mar anda perdido
Golfinhos, madrepérolas, quem sabe?
– Como perder – repreende o vento suave –
como perder o nome por esquecido?

– À terra regressar! Por mar, não foi.
Não vês sua forma entre jasmim e pássaro?
Vai para as montanhas. Indague. Acabe
Com essa soçobra de não ter nascido.

Não é pelo ar, borboleta exata.
Não é pela água com o peixe, intacta,
onde amanhece seu primeiro assombro.

Talvez aqui, sob a terra ferida,
ao pé da árvore Panamá está encerre
neste grito com o qual a nomeio.


LAGO, VAMOS BRINCAR

– Lago, vamos brincar.
Eu o marinheiro,
tu o mar.

Eu ponho o barco,
tu o vento,
tu as ondas,
eu o timão.
Tu as ondas e o vento,
eu a canção.

– Falta uma coisa. A estrela.
Sim ela
quem vai te guiar?
Sem uma estrela não há viajante,
nem marinheiro, nem mar.

– Eu ponho o barco,
tu o vento,
tu as ondas,
Eu o timão;
Tu as ondas e o vento,
eu, a estrela e a canção.


ALEGRIA PELO TELEFONE

Como o pássaro em seu voo
como o vento,
como o raio da lua
e o aroma,
como todo o invisível
o impossível,
hoje minha mãe falou de longe.

Onde estava? Como foi?
O como, onde e por que,
não sei.
O quando eu mal entendo.
Tarde? Cedo? Hoje? Ontem?
O sol estava se vestindo
para sair.
Seria talvez amanhã
quando a ouvi.

Por um fio, ela me chamou.
– Olá! O que fazes? Estás bem?
Já banhaste a tua boneca?
Eu lhe respondi,
– Sim, sim.
Como sua voz veio de tão longe?
Como foi, como foi?
Não sei.
Mas eu ri feliz.
Eu senti uma grande alegria.
Isto sim, isto sim.

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