3 Poemas de Margarita Azurdia (Guatemala, 1931-1998)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Elys Regina Zils

Também conhecida sob o nome de Margot Fanjul por um tempo e quase totalmente ignorada pela crítica, Margarita Azurdia é, além de poetisa, uma das mais importantes pintoras e escultoras contemporâneas do país. Por outro lado, também dedicou parte de seus esforços à criação de espetáculos de dança moderna em que homenageia a Deusa Mãe Terra, como ela a chama, e à ilustração de livros. Começa nos moldes da pintura abstrata, separando-se assim dos esquemas neo-figurativos que eram a norma da época, embora na realidade nunca tenha se adscrito inteiramente a uma única escola. Em 1974, mudou-se para Paris, onde progressivamente manifesta a sua preferência pelo minimalismo, inicialmente porque a falta de espaço físico a obriga a um formato pequeno, mas também como veículo de expressão do primordial. É a etapa que coincide com seu início como escritora, por isso não é de surpreender que em sua palavra poética a economia expressiva seja uma das características mais fortes. Em seu primeiro livro, El libro de Margarita (1987), tenta delinear uma visão feminizada da realidade, razão pela qual surgem continuamente termos como uma Universa, a Pensamenta 0u a Movimenta e que fale de uma Deusa criadora. Isso fica mais evidente nas três primeiras seções do livro em que, com linguagem simples, familiar e coloquial, ela celebra a si mesma e sua autossuficiência no mundo e reflete sobre os acontecimentos mais cotidianos de sua realidade imediata. Muitos poemas deste livro são caracterizados por um tom lúdico em que neologismos, onomatopeias e o uso de uma linguagem coloquial que reflete aspectos particulares da fala guatemalteca funcionam muito bem. Por isso, a princípio, sua palavra poética pode parecer infantil e simples, no entanto estamos diante do que se poderia chamar de uma poesia do imediatismo e do testemunho quotidiano, que revela uma mulher que se observa e nos descreve o que vê e o que almeja.

ANABELLA ACEVEDO, AÍDA TOLEDO


É CONTRA A MORTE QUE ESTOU LUTANDO

É contra a morte que estou lutando
e ela tem muitas caras e muitas máscaras
por isso agora vou me permitir a respirar
a aprender sozinha novamente
como sentar reta
e com equilíbrio à terra
apesar de um joelho queixoso
e um ombro com uma agulha enfiada
que me impedia com a mão direita
o braço e ombro incluídos
estar na minha pele
e meu temperamento inconstante
como a ponto de congelamento
o riso já não salta
quando decidi escrever
sem esquecer minha respiração.


VAMOS IMAGINAR

Vamos imaginar
um tempo melhor
para poder ganhar
vamos conjurar
que aceito ir
deste lugar
e para que veja
vou andar
como se deve
contraída a barriga e as nádegas também
vamos imaginar
um tempo melhor
e a não sofrer mais
vou andar
como se deve
contraída a barriga e as nádegas também.


QUANDO ENFRENTO O COTIDIANO

Quando enfrento o cotidiano
sozinha
em seco e sem mastigar
sem música de fundo
sem cigarro
sem dose
sem baby-rose
sozinha diante do universo
de dia a dia
sem companhia
e no silêncio
do meu interior
o mais provável
é que acenda o fogo
e comece a cantar.

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