3 Poemas de Thaís Espaillat Ureña (República Dominicana, 1994)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Thaís Espaillat Ureña nasceu em Santo Domingo em 1994. É poeta, editora, artista audiovisual e realiza oficinas de poesia experimental. Publicou os livros de poesia: Eres un pixel, 2015; Pudo haberse evitado, 2017; A veces quisiera dormir dentro de un pomelo, 201; e ¿Tienes quién te cuide la mula?, 2020. Ela também publicou os zines: Me voy a morir en Costa Rica, 2017; Este título es un secreto,2017; Alguien por favor make me stop thinking, 2018; La verdadera violencia de las verduras, 2018 e Panfleto de poesía política: Poemas para presidentes, 2019. Dirige o Editorial Hacemos Cosas, que publicou alguns de seus trabalhos, bem como de outros jovens autores latino-americanos. Seus poemas foram publicados no México, Argentina, República Dominicana, Porto Rico e Espanha.


TELEGRAMA

Pequena lista de imagens em ordem aleatória:
Uma fonte que transborda
em um parque com luzes laranja,
uma capa vermelha fugindo dos carros
no meio da estrada
(nota de rodapé: parece um ramo de rosas),
um jardim que cresce
em um teto vermelho, ao lado de uma parede quase branca,
um muro roxo e verde
do lado direito, sempre do direito,
que não deixa o Sol sair,
uns insetos tentando se beijar
na luz de uma lâmpada,
umas mãos que buscam algo
em uma mesa,
uma asas caindo
na água,
uma mão que agarra um papel que diz:
“isto tudo ainda me faz sentir só”.


INVADIR-NOS SERIA PERDER O TEMPO

Não creio que os extraterrestres se pareçam com meus vizinhos
ou os teus ,
que tenham a cabeça gigante,
a pele arroxeada,
olhos na nuca.
Certamente se parecem mais
com as medusas invisíveis,
com o pó que flutua na luz,
com as manchas de óleo.
E não falam conosco porque somos aborrecidos.
Seguimos
caminhando,
correndo,
voando em círculos
e paralelogramos.
E eles existem nas gretas dos relógios,
nas veias dos planetas que fogem dos telescópios.
Ou talvez saibam tanto que já nem falam,
e apenas morrem lentamente e sem senti-lo
ou sentindo tanto,
em camas que viajam entre nossos satélites
e aparecem em algumas fotos
mostrando suas mil línguas,
com baba que desperta um vulcão bem longe.
Os extraterrestres certamente não escrevem poesia,
nem fazem filmes,
nem cozinham na televisão,
porém estou quase certa de que têm internet
e usam Thor para nos espiar.
É justamente quando dão conta
de que não valemos a pena,
e nos deixam como nossas drogas
e nosso pornô
e se afastam com seus tentáculos
ou suas coisas ainda sem nome,
tremendo dos estúpidos
que sempre fomos
enquanto apagam a linha divisória
e deste lado tudo se torna
de cor mórbida,
fossa comum,
solado de bota.
As crianças olham o céu
e se dão conta
de que não há mais desejos.
Os astronautas tiram seus cascos em protesto,
não chegaram à NASA mordendo a camada de ozônio
para ser mineiros.
As pessoas comuns nos supermercados e nos empregos girando e teclando
com latas de grão-de-bico e plantas de plástico como última paisagem,
gritam umas sobre as outras,
pedem ajuda,
ajuda-por-favor-garrafa-vinho-quebrada-chefe-renuncio-mamãe-te-odeio
e os extraterrestres cada vez mais longe
e maiores
e menores
e mais com formas alheias,
suas asas de fogo,
seus dentes de nitrogênio,
suas partes que não sei armar,
afogando
ou respirando
ou se abrindo
entre o lixo
e a geada,
sorrindo para os milhões de bebês glutões
que pariram as estrelas mortas.


SERIA UMA HONRA CHEGAR A SER ABONO

Perdão pela interrupção
porém me parece importante dizer
que ontem pela manhã
um trator me fez uma reverência
ou talvez não sido uma reverência
mas sim um movimento de cabeça
como quem diz
“eu te entendo”
O que pensavas que pensava
quando me viste
do outro lado da estrada?
Agora mesmo não posso te responder porque não me lembro
porém, se te interessa,
neste momento estou pensando
que seria bonito
queimar toda uma plantação de arroz
e correr e dançar entre as chamas
e lentamente ficar sem a pele,
sem músculos,
sem ossos,
ficar grudada no chão-cinza
e talvez alguns anos depois
amanhecer dentro do tronco de alguma árvore
que talvez pudesse ser de tamarindo
ou me sentir feliz
com o simples que seria
imaginar alguém bebendo suco
à margem de um rio
enquanto pensa em meu nome.

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