5 Poemas de Violeta Luna (Equador, 1943)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Violeta Luna (Guayaquil, 24 de fevereiro de 1943) é uma poetisa, narradora, crítica literária, ensaísta, jornalista, ativista equatoriana dos direitos humanos das mulheres e professora. Seus livros de poesia são: Poesía universitaria (1964), El ventanal del agua (1965), Y con el sol me cubro (1967), Posiblemente el aire (1970), Ayer me llamaba primavera (1973), La sortija de la lluvia (1980), Corazón acróbata (1983), Memoria del humo (1987), Por culpa de los números, Las puertas de la hierba (1994), Una sola vez la vida (2000), La oculta candela (2005), Ráfaga menguante y otros poemas (2019). Autora do livro de contos Los pasos amarillos publicado em 1970 e do ensaio La lírica ecuatoriana actual de 1973. Graduada em Espanhol e Letras e doutora em Ciências da Educação. Lecionou Línguas e Literaturas durante 25 anos em diversas faculdades e universidades do país. De 1990 a 2001 morou nos Estados Unidos e no México. Em junho de 2003 representou o Equador no XIII Festival Internacional de Poesia de Medellín e na I Cúpula Mundial de Poesia pela Paz na Colômbia. Foi membro de importantes organizações e instituições como: Círculo de Prensa del Ecuador; Sociedade de Escritores Equatorianos; Associação dos Artistas e Intelectuais do País. Exerceu jornalismo e colaborou com jornais, revistas e radiodifusores na área da crônica e do roteiro cultural. Foi membro do júri do Prêmio de Poesia Casa de las Américas em Cuba. Recebeu o Prêmio Nacional de Poesia Jorge Carrera Andrade em 1994; em março de 2023, recebeu a distinção “Rosa de Plata” pela sua carreira literária e trabalho em literatura e educação da revista Hogar.


VISÃO GLOBAL DO AQUECIMENTO

O mundo ficou doente
e não há estradas limpas
nem cadeias de montanhas verdes
com ventos espumantes e harmonias.
Com os anos se acabam
aqueles salgueiros antigos
de loucas cabeleiras
mordidas de garoas e areias.
Há tempos
deixamos de ser doces,
rápidos e felizes.
Deixamos nossos jardins
plantados com alecrim e margaridas
e nos perdemos cegos
no meio do cimento,
nas cidades desajeitadas
famintas de violência e tabaco.
Até o clima é diferente,
já não existem os crepúsculos
de luas amarelas
e a paisagem antiga.
Sem água ou frescor perecemos.
Sem árvores sonoras não existimos mais.
Eu mesma neste momento
poderia ser a folha dissecada
no meio das páginas de um livro.


AMOR SEM ROSTO

Os rostos dos outros são iguais.
Mesquinhos e perseguidores.
E além das pessoas
as memórias também têm cabelos,
a paz tem uma máscara,
a solidão tem um olho.
E na alegria há um dente.


MEU CORAÇÃO ATRÁS DE TI

Meu coração está há muito tempo
riscado por teu esporão agradável.
E ele segue silenciosamente
debaixo de teu esporão sangrando.
E quem acreditaria nisto!
que eu tivesse dentro uma fruta suave
que sangra com o peso de uma espora.
E o dicionário diz que uma espora
é uma espiga longa e de aço
que serve para cravar nos cavalos.
Agora eu entendo
por que meu coração está descontrolado.


[POR CULPA DOS NÚMEROS]

Por culpa dos números
eu sempre errei em todos os cálculos.
Por não poder usar logaritmos
o relato da minha vida caiu por terra.
Jamais encontrei meu sete
Ou pude colocar cifras em minhas letras.
Não soube a porcentagem de minhas fraudes.
Talvez por isso mesmo
eu não tinha nada exato.
Por não poder subtrair decimais
eu estava me enchendo de fumaça,
de ventos e pombas
e não pude nunca ser um três resolvido.
Em pleno nada foi deixado
meu signo com sua potência máxima.
E sempre me balançam
as frações geladas do esquecimento.
Por causa dos números
Eu jamais fui entendida.
Por causa dessas pragas
jamais encontrei a rota da lógica,
jamais um mar calmo,
jamais um tempo eterno.
Por não conseguir fazer raiz quadrada
eu não tinha um prédio esmeralda
sem tapetes voadores.
Fiquei pobre,
sem amuletos próprios
ou talismãs mágicos.
Por esquecer a álgebra
eu não poderia ser brilhante
e mal tinham sobrado as gaivotas
e uma caveira chuvosa
onde o arco-íris balança.
Por causa dos números
minha casa da sorte caiu
e até o amor mais firme
acabou saindo pela tangente.


CAVIDADES DA AUSÊNCIA

Talvez o mais absurdo
é se perder em si mesmo.

Às vezes eu me indago
o que houve com minha vida
e quando eu me perdi
nessas cavidades da ausência.

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