5 Poemas de Aleyda Quevedo Rojas (Equador, 1972)

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Tradução de Floriano Martins

Aleyda Quevedo Rojas (Equador, 1972). Poeta, jornalista, ensaísta e agitadora cultural. Autora de livros como Cambio en los climas del corazón (1989), La actitud del fuego (1994), La otra, la misma de Dios (2011), Jardín de dagas (2014) y Ejercicios en aguas profundas (2017) Em 2017 a Casa da Cultura Equatoriana publicou sua poesia reunidacom o título: Cierta manera de la luz sobre el cuerpo, contendo nove livros de poesía e estudo introdutório assinado por Jesús David Curbelo. Crédito da foto: Eduardo Guerra.


DESEJO

Dizem que Safo saltou do vazio do penhasco de Leucas. Ela mordeu os lábios e uma torrente elétrica acompanhou seu corpo quente e nu. Sem paixões, pedras ou catástrofes de dor, ela mergulhou no mar à procura de si mesma. Longe do fulgor do desejo, longe do lugar da dor amarga e doce, mel indefinível, mel azedo.


QUEIMADURA

O desejo. O que deseja. O desejado. Desejando-te. A beleza efêmera. A tríade do dano, imersão e fragilidade que queima a pele. O deseja-te que escraviza os queloides do meu eu. São os meus estados que você pode ver antes de iniciar qualquer exercício de afundamento. Erros que as pessoas criticam. Cicatrizes de pesado relevo. São estados do cérebro que arrastam à desembocadura do tédio. Tratas de abandonar essa queimadura extensa sobre o corpo que te marcou. Procuras falésias e terraços altos. Pedras lisas. Adagas e punhais. O que se deseja é voraz. A pessoa que deseja perde força e cobiça. O desejo sempre no tempo presente. Foi para Sócrates e para Safo ainda é. Eros Criador.


MECANISMO

A arqueologia do desejo parece ser explicada dentro de um mecanismo em cadeia: pulsão-emoção-desejo. Um mecanismo semelhante ao vento frio da montanha quando levantas os cabelos. O fato é que a palavra desejo entra gradualmente em minha casa e devora portas e dobradiças. Arranha móveis e se entrelaça com a relva do jardim. O desejo é aterrorizante, e frio. Entra com um chute furioso. Pulsão complicada sem a mínima serenidade. Reverdece as flores do verão, mas murcha o aloés feminino do terceiro jardim. Tentei encará-la como uma metáfora emplumada, mas tornou-se a fábula favorita dos meus sentidos. Toco nas fendas da casa e nas dobras dos tapetes. A palavra desejo é imprecisa para definir paixão, mesmo que brilhe e corra para o mar. É ainda pior entrelaçá-la com o tempo futuro e o do esquecimento. Agora eu confio apenas que a palavra desejo me permitirá desmontar e juntar minhas próprias emoções espalhadas por toda a casa. O vento gelado é aterrorizante, elevando-o com desejo. É um animal procurando uma casa, caçando meu corpo. Procurando a cavidade quente, úmida e desconhecida onde se aninhar.


VÓRTICE

O movimento do corpo e a imobilidade da alma que contém a minha existência. Redemoinhos subterrâneos e sanguíneos. Eles me jogam no vórtice que é intempérie do amor. Até que desejes estar aqui entre o movimento e a imobilidade do meu amor. Até que seja teu desejo enlaçar-te ao ritmo das minhas pernas que correm em direção ao lago verde de ondas suaves. Turbilhão interno do que parece ser um suspiro. O amor contigo é abraçar as profundezas do mar sulfato, brometo, sódio e flúor. E pacientemente perder-se entre o sangue e as cavernas genuinamente íntimas do turbilhão.


MURO BRANCO

O vento me leva a Kate Millet, sussurrando: “o amor é o ópio das mulheres”. – Sua afirmação me desequilibra – enquanto vago pelos corais, pensando que sempre soube e não queria reconhecê-lo. Em minha fuga dessa onda branca e gigante que foste tu, muro espuma branca e água queimante que me derrubou tantas vezes, murmuro a frase pela ferida. Já na superfície, percorro com minha boca o sal imaculado e o magnésio mar. “O amor é o ópio das mulheres” e na profundez ou em terra tudo consiste em saber como fugir a tempo das ondas de um amor salgado, doce, amargo, densamente amargo. Fugir com essa boca que não te beija mais, não te nomeia, não te come mais. Fugir, mesmo que o amor seja o sal da terra.

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