3 Poemas de Bertalicia Peralta (Panamá, 1939)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Bertalicia Peralta (Panamá, 1939). Profissional e artista multifacetada, estudou pedagogia, jornalismo, relações públicas e educação musical. Trabalhou durante anos como professor de música e no início da década de 1960 começou a se dedicar mais à literatura e ao jornalismo cultural. Especializou-se no campo da crítica literária, teatral e musical. Ela também escreveu roteiros de televisão e rádio. Foi fundadora e codiretora da revista de interesse literário El Pez Original, publicada por quase quatro anos. Como jornalista, foi responsável pelas colunas “Temas de hoy” e “Letras de Crítica” na imprensa de seu país. Peralta escreveu livros de poesia e contos, muitos dos quais fazem parte de antologias latino-americanas e lhe renderam vários prêmios. De seus mais de dez livros, destacam-se Canto de esperanza filial, Sendas fugitivas e Un lugar en la esfera terrestre. Igualmente se destacam os livros de contos Barcarola y otras fantasías incorregibles e Puros cuentos. Sua obra foi traduzida para vários idiomas.


DOIS AMIGOS

Dois amigos caminham pela vida
juntos como irmãos
eles se entrelaçam da mesma forma
vão como tubarões ofegantes invencíveis
remam com suas duas forças contra
uma corrente que depois de discutida e analisada
é lamentável a olhos nus

até que um dia
um deles cego preso pelo rabo
rompe o feitiço

– amor não é suficiente –
os dois amigos falam um com o outro apenas de vez em quando
eles não se olham mais nos olhos
justificam um encontro casual com intermitências
isoladas
a partir de então
eles permanecerão emaciados tubarões ofegantes
com um par de tristezas sobre o rio.


A ÚNICA MULHER

A única mulher que pode ser
é a que sabe que o sol para sua vida começa agora

aquela que não derrama lágrimas, mas se lança para
semear a cerca de seu território

aquela que não faz orações
que pensa e levanta a cabeça e balança o corpo
e é terna sem ter vergonha e dura sem ódio

aquela que desaprende o alfabeto da submissão
e caminha altiva

a que não tem medo da solidão porque sempre esteve sozinha
aquela que deixa passar os gritos grotescos de violência

e a executa graciosamente
aquela que é lançada em pleno amor
a que ama

a única mulher que pode ser a única
é aquela que dolorida e limpa decide por si
sair de sua pré-história.


É TODA A SOLIDÃO

É toda a solidão que está contigo
e te seduz
necessária densa destemida como um templo
onde ainda não entraste

sangue coletado o de tua vidamorte
tantas vezes distraída do horário sonoro
da máquina que espera pela tua sagacidade
criam números como serpentes
que lentamente comerão teu crânio

e teu bairro de emoções se aglomera e milita
de tua angústia deverão sair olhos
para chorar e barbas de teu coração
para enfraquecer a esperança que não vai morrer

e é que não morre esta vida imortal
que estou herdando de ti

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