4 Poemas de Roxana Landívar (Equador, 1997)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Roxana Landívar (Guayaquil, Equador, 1997). Estudante de Letras na Universidade de Buenos Aires. Escreveu dois livros inéditos: Desechos/Deshechos e Fractura primaria, os relatos Demolición, Diario de Rosa, Graciela e Cementerio. Participou dos ciclos de leitura “La Hoguera” e “MAPPA”. Seus textos estão incluídos na II edição da revista digital Cráneo de Pangea.


MORTE À MUSA

Eu queria ser o fantasma
entre os poetas lacrimosos
queria meu nome surgindo
nas noites de embriaguez
e colecionar cada poema
em meu refúgio de lágrimas
porém as musas são apenas instrumentos
eu me recuso a ser a mãe dos poetas
a lhes acariciar a vida sempre que sofrem
o amor é belo porque morre
e não há mesmo que ficar para sempre
mesmo que esta tenha sido a promessa


RETRATO FINAL

Eu serei a mulher quebrada
serei a mulher sem cabeça
farei os pratos da mamãe
e sorrirei ao te ver chegar

Vou me masturbar na cozinha
enquanto lavo tuas meias
pensarei em outros homens
naqueles que estiveram antes
nos que esperam por mim

Vou me disfarçar
serei outra
vou ser essa comédia
essa armadilha que te aniquila
uma chama que queime tudo


O MANSO

queríamos fazer algo com essa pequena cidade / por isso as noites sem dormir falando de grandes sonhos / e de como construir um lugar mais suportável / alguns amigos pintaram seus muros / até penduraram obras / nos pequenos museus onde não ia ninguém / minhas irmãs gritavam poemas em bares imundos / e encheram as ruas pela primeira vez / com mulheres / putas / e viados / mamãe reconsiderou várias vezes / à avó não pudemos chegar / era um caso meio sem esperança / alguns amigos criaram sem pedir nada em troca / fizeram o que puderam com o que tinham / sabendo que em alguns anos provavelmente tudo será esquecido / alguns de nós saímos / retornamos / muitas vezes concordamos que era inútil / que nada germina ali / melhor abandoná-la / para sempre / deixar de ser sangue ruim / tínhamos que fazer algo com essa pequena cidade / atear fogo / sequestrar os autoproclamados donos / que nunca se renovaram / jogá-los no rio para que os leve dali / queríamos destruir e reconstruir / alguns cansaram / os poetas envelheceram para ler o jornal trancados em suas casas / suas casas construídas longe do centro / em condomínios / vigiadas 24 horas por dia / alguns até tinham filhos / ingenuamente pensando que eles seriam a esperança / queríamos muito mudar as coisas, lembra? / olha o que aquela pequena cidade fez conosco / todos penduramos as luvas / nem percebemos.


TERREMOTO

Os escombros sepultaram a minha infância
a pequena cidade se tornou fantasma
os marcos se encontram perdidos
e a casa com um telhado que não cobre

Isso me torna uma série
de pequenas demolições
os objetos familiares destruídos
e um lugar que só existe
na memória
mas talvez sejam incêndios necessários

talvez sejam incêndios necessários
talvez sejam incêndios necessários

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