5 Poemas de María Ramírez Delgado (Venezuela, 1974)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Elys Regina Zils

María Ramírez Delgado (Los Teques, Venezuela, 1974). Mestre em Filosofia pela Universidade Simón Bolívar e graduada em Filosofia (UCSAR). Publicou Susurros de un viento demasiado mudo (LP5 Editora. Chile, 2022); Violencia (Mago Editores, Santiago de Chile, 2017); Navajas sobre la mesa (BID&CO. Editor, Caracas, 2009); Quemaduras (Grupo Editorial Eclepsidra, Caracas, 2004); En el barro de Lesbos (Ediciones Funsagu, Maracay 2002) e Éramos malos (Ediciones Funsagu, Maracay, 2002). Também foi resenhada em antologias e publicou artigos e colaborações em várias revistas, foi convidada como palestrante na Américas Society e City College de Nova York. Atualmente é professora da Universidade Simón Bolívar no Departamento de Filosofia.


A AFONIA DAS MAÇANETAS

Vou girar a maçaneta inexistente até abrir a porta da loucura.

Rangerá o chão quando eu cruzar o portal, os verbos vão correr, ratinhos assustados, refugiam-se na confusão.

Caracóis pintam as paredes com seus úmidos traços, o estímulo da afonia.


METRÔNOMO

O metrônomo mede a batida de uma sentença a outra.

Calcula o batimento das finas sombras, não permite que desarmonizem. Respeita a luta. A desolação exige um momento de lúcida temperança, o acompanhamento preciso.

Mantêm o pulso do fim do pensamento.


O GRITO PETRIFICADO

Tenho um uivo contido no lápis. Um grito petrificado.

A desordem rodopia no músculo, quer brincar. Não pode, para. Ricocheteia no peito e afunda, entre as costelas uma reprovação as arrebenta. O óxido se espalha, brilha por dentro.

E quando a delicada caixa do coração se partir, será apenas a ressonância do não dito.


LITOFONE

Há pedras que contêm em si toda a linguagem.

Cantarolam umas com as outras, com suas batidas insistentes. Seus duros sinais de signos desalojam as aparições.

Uma pedra tenor é um refúgio, um alento fendido do antigo.


SUSSURROS DE UM VENTO MUDO

Não necessitamos das palavras para capturar o mundo.

Espero nas dunas circulares, tento decifrar a união entre o silêncio e a noite. Os significados evaporam, ascendem e se distanciam, uma afônica chaga e
os sussurros de um vento mudo arrastam a vida.

Tento capturar a elipse, o verdadeiro sustentáculo, para que o vazio permaneça.

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