3 Poemas de Carmen Verde Arocha (Venezuela, 1967)

| |


Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Elys Regina Zils

Carmen Verde Arocha (Caracas, 1967). Escritora, poetisa, editora, professora da UCAB, mestranda no curso de pós-graduação em História da Venezuela da UCAB, diretora fundadora da Editorial Eclepsidra desde 1994. Publicou em Poesia: Cuira (1997-1998), Magdalena en Ginebra (México, 1997), Amentia (Prêmio Anual de Poesia Arístides Rojas da Controladoria Geral da República, 1999), Mieles (2003), Mieles Poesía reunida (2005), En el jardín de Kori (2015), Canción gótica (2017). De ensaios publicou: Cómo editar y publicar un libro,  El dilema del autor (2013-2017-2020), El quejido trágico en Herrera Luque (1992). Entrevistas: Al tanto de sí mismo: conversaciones con Alfredo Chacón (2021), Rafael Arráiz Lucca: de la vocación al compromiso, Diálogo con Carmen Verde Arocha (2019). Alguns de seus poemas e obras críticas foram publicados em jornais, revistas e antologias dentro e fora da Venezuela.


CÉU INACABADO

Um pano branco
se estende ou se enrola conforme desejado

O céu bem ao meu lado
Figura transparente
Conta lentamente meus dedos dos pés

Escuto tua respiração

O desgaste das feras da floresta
transborda minha voz minhas mãos meu rosto molhado

Um céu inacabado vem para nós dois
Pinta os corpos de bronze
Nos deixa brilhantes de pudor quando nos vemos

O inacabado do céu
o desejo de te amar
e não amar ao mesmo tempo
está quando olhamos nos olhos um do outro e chove
Chove a noite toda sem dar tempo de nos cobrirmos

Com o direito apenas de sentir frio

Talvez a água nos ajude a terminar
o pedaço de céu que falta


WO IST DIE LIEBE?
[Primeira versão]

Quando ficam anciãs
algumas mulheres se perguntam
“Wo ist die Liebe?” (Onde está o amor?)

Vestidas de longo
Sentadas remendam roupas
buscando na memória se realmente
alguma vez escutaram seu nome

Passam parte de sua vida
tecendo e destecendo
Já fizeram isso antes?
Quem disse que Penélope
juntou-se com Odisseu apenas para dar à luz Telêmaco?

Vi minha avó Estefanía e minhas tias
arrancar os tamarindos
e as tangerinas das árvores
coloca-los em cestos
cheios de material de costura e tricô

Conversam entre si em voz muito baixa
quase num sussurro
se alguma encontrou esse lugar

É o último sonho que elas têm
antes de pegar suas malas e ir
Esse hábito de partir
sem nenhum adeus

Em silêncio elas vão
na ponta dos pés
inclinadas
para não gastar as forças
e preservar as lágrimas

Não voltam mais

As que ficam em suas casas
rezam pelas valentes as guerreiras
que partem sozinhas ou em grupos

O amor costuma se mudar

Toda vez que chega em uma casa foge

Algumas mulheres lidaram com o amor

Mas cruel
depois de fazê-las felizes arrancam o desejo

Dormem agradecidas


WO IST DIE LIEBE?
[Segunda versão]

Os homens são os últimos a morrer
e os primeiros a dizer
onde está o amor (Wo ist die Liebe?)

Isso gera dúvidas
Seus rostos os denunciam

Essa tristeza que os abate
e os motiva a olhar para as árvores por horas

Quando ficam velhos
alguns se perguntam
se de verdade conhecem o amor
ou se realmente abriram a porta
ao sussurro de uma sombra
que hospedaram
comovidos em seus corpos

__Parece que foi para uma sombra

Murmuram as anciãs na missa
As mais jovens respondem

__Mas esses homens se sentam
na frente de suas casas
com seus netos seus filhos e esposa

No fim da tarde
as anciãs escutam quando perguntam

__Wo ist die Liebe?

Eles se esforçam para lembrar
algum alento uma dor uma cicatriz

Mas não encontram nada

Deixe um comentário

error

Gostando da leitura? :) Compartilhe!