3 Poemas de Nila López (Paraguai, 1954-2021)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

NILA LOPEZ (Paraguai, 1954-2021). Poeta, dramaturga, jornalista, atriz e professora. Encorajada desde a juventude por uma forte vocação humanista, estudou o ensino superior em Psicopedagogia na Universidade Católica de Assunção, onde se formou com um diploma nessa disciplina, o que lhe permitiu orientar sua carreira profissional no caminho da docência. Imersa nessa constante dedicação ao ensino, atingiu seus mais altos níveis de prestígio e profissionalismo quando foi nomeada diretora do Departamento Cultural do Centro Cultural Paraguaio-Americano.

Ao mesmo tempo, Nila López vem desenvolvendo uma intensa atividade jornalística que a levou a alguns dos meios de comunicação mais prestigiados de seu país, como ABC Color (onde trabalhou como colunista e entrevistadora), La Tribuna (onde ocupou o cargo de chefe da área de Artes e Entretenimento) e do jornal Noticias (cujo suplemento dominical também esteve sob a direção do brilhante jornalista de Concepción). Seu extraordinário trabalho na mídia paraguaia culminou em seu desembarque no Canal 9 (SNT), onde se tornou um dos rostos mais populares da esfera cultural do país, graças ao seu trabalho como apresentadora em diferentes programas de televisão relacionados ao mundo intelectual.

Como escritora, Nila López ficou conhecida em meados dos anos 1970, quando sua obra Ciudadalma (1977) – texto ecológico escrito em colaboração com Raquel Chaves – ganhou o segundo prêmio no concurso literário Municipalidad de Asuncion. Posteriormente, lançou duas coletâneas de poemas – El brocal amarillo (1985) e Artificios naturales (1987) – que a tornaram uma das grandes revelações da poesia paraguaia contemporânea, além de uma peça intitulada ¿Quién Déjó el train? (1987), que foi distinguida com o prémio máximo no concurso literário organizado pela Rádio Cáritas.

J. R. FERNÁNDEZ DE CANO


[TODOS OS REINOS PERDIDOS DO MEU CORPO]

Todos os reinos perdidos do meu corpo
limitam esta sesta com a tua.
Concede-me o dom de te reconhecer,
tão perto de tua boca meu suspiro,
mostrar a ti que a reivindicação do desejo
pode ceder, sutil, seu privilégio
ao antigo chamado do espírito.


[ARCHIBALD ME DIZIA]

Para Josefina Plá

Archibald me dizia:
palpável deve ser tua criatura
como fruta redonda.
Penso na circularidade do círculo:
Devem te faltar palavras.

As letras caem.
Algo afiado fere minha página.
Este poema não significa nada
mas agora com ele
estou enramada.
Quero te contar
como cresce desconfiada
a raiz do drama
enquanto fazemos pactos inúteis
no salão do escândalo
nos antecipando ao medo,
perseguidos por pecados capitais,
indagando quem é melhor,
quem é bom ou pior,
que razão como Dom Juan atropelamos,
de que virtude nos escarnecemos,
de que justiça zombamos
ou quem nos engana,
que pessoas vendemos,
qual delírio causamos.


POR VARIADOS CAMINHOS

Para Carlos Villagra Marsal

Por variados caminhos,
quase sempre dispersa
porém determinada
espero que alguém chegue
ou que ninguém venha
para perturbar meus desejos,
a felicidade indescritível
de lavar os legumes
e organizar as escovas
de Giovanna e Adriana.
Muitas vozes me chamam
e no esforço absurdo
para responder a todas
confundo velhas margens,
me enrolo na doméstica
desordem da mesa,
escondo os horários
e organizo desculpas
muito além ou aqui mesmo.
Por isso que amiúde
a partir desta fortaleza
mil vezes peço perdão
por não ser a heroína
que meus oráculos buscaram.

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